No escuro - In the dark

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A comida é uma das principais fontes de prazer para muitos de nós. Comer é muito mais do que uma necessidade fisiológica. É uma experiência sensorial, emocional, cultural e social. O ato de nos sentarmos a uma mesa para comer ativa os nossos sentidos, mexe com as emoções e alimenta o nosso círculo social. E isso acontece nas nossas casas, nas casas dos outros ou em restaurantes. Para mim os restaurantes permitem-nos experiências que não conseguimos ter em casa. A gastronomia tem tido uma grande evolução, tão grande que só é possível acompanhá-la se nos dedicarmos profundamente a essa área. Eu, sinceramente, acho que não tenho jeitinho nenhum e deixo isso para quem realmente sabe o que faz, até porque é necessário muito mais do que apenas jeito. 

Há restaurantes que são familiares, como uma segunda casa. Na altura de escolhermos sabemos que é uma escolha segura, e que iremos obter o que sabemos ser uma boa experiência. Depois há aqueles mais excêntricos, que merecem uma visita de vez em quando, sempre que queremos saborear algo diferente e termos uma "viagem" para um "país" diferente por umas horas. Há também os que escolhemos para comemorar uma data especial. Por fim, há uns que de tão extraordinários que são em termos de conceito e experiência, valem a pena a ida nem que seja uma vez na vida. 

É desse tipo de restaurante que vou falar agora. Essa minha experiência tem o nome “NOIR”. NOIR é um restaurante em Ho Chi Minh, Vietnam. E o que é que o distingue dos outros restaurantes? Como o próprio nome indica, foi uma experiência "negra", para a qual fui completamente às "cegas". Olhem para tudo o que vos rodeia... cheio de imagens, cor e brilho. Agora tentem fechar os olhos e imaginem-se sem visão... Entre os cinco sentidos, a visão tem um papel muito importante. Pensem quão diferente seria o vosso mundo se apenas sentissem o mundo apenas através das outras faculdades sensoriais. Os aromas assumem maior relevância, o gosto fica mais intenso, a audição mais sensível e o toque mais delicado.



É disto que se trata no restaurante NOIR, uma experiência única que altera a nossa percepção do mundo, onde o cheiro, o gosto, a audição e o tato se unem para que nos adaptemos a uma realidade de plena escuridão. 

O restaurante funciona às escuras e colabora com três associações de invisuais locais. É das poucas oportunidades de emprego disponíveis para estas pessoas. A experiência começa no salão de entrada do restaurante onde ainda podemos ver graças a uma iluminação que ainda nos auxilia. Nesta fase descrevem-nos o conceito, e escolhemos o menu que nos irá ser servido: oriental, ocidental ou vegetariano. Apenas é escolhido o tipo de menu porque os pratos são deixados em mistério. De seguida, colocam-nos uma venda nos olhos e são-nos dados alguns jogos de adaptação à ausência de visão. Antes de prosseguir para a sala de jantar temos de deixar num cacifo todos os objetos emissores de luz. É-nos atribuído um guia/empregado de mesa que nos encaminha por umas escadas acima para uma sala no piso superior. Esse percurso vai-nos levando para a obscuridade total e somos conduzidos até à nossa mesa. Indicam-nos uma cadeira através do tato e é-nos pedido que sintamos os limites da mesa e o posicionamento dos nossos talheres, guardanapo e copos. 

Seguem-se os "pratos" que têm divisões para separar as diferentes comidas. Na falta de visão, todos os outros sentidos são ampliados, parece que falamos demasiado alto e o sabor dos alimentos altera-se. Há coisas que não conseguimos identificar de todo, outras parecem uma coisa num momento e outra noutro. A refeição parece-nos muito longa, mas durou menos de uma hora. Ao terminar a refeição, o guia conduz-nos de novo à sala de entrada onde nos são apresentadas as imagens dos pratos que experimentámos. É normal que a visão leve alguns momentos a adaptar-se novamente à luz. Saímos com uma sensação indescritível de termos ganho uma consciência sobre a vida das pessoas que ali trabalham que nunca seria possível obter de outra forma. Resumindo: come-se bem, mas o fundamental da experiência não foi a comida... Esta experiência foi um desafio em termos sensoriais, mas foi também uma epifania sobre realidades nas quais nem sempre paramos para pensar.

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Food is one of the main sources of plaesure for many of us. Eating is much more than a physiological need. It is a sensory, emotional, cultural and social experience. The act of sitting at a table to eat activates our senses, stirs our emotions and feeds our social circle. It can happen in our homes, in the homes of others or in restaurants. For me restaurants allow us experiences that we can not have at home. Gastronomy has had a great evolution, so great that it is only possible to accompany it if we dedicate ourselves deeply to it. I honestly do not think I have what it takes and so I and leave it for those who really know what they do, because it takes more than just trying. 

There are restaurants that are familiar, like a second home. When we choose them we know it is a safe choice, and we will get what we know to be a good experience. Then there are those who are a bit more eccentric, who deserve a visit from time to time, whenever we want to taste something different and have a "trip" to a different "country" for a few hours. There are also those we choose to celebrate a special date. Finally, there are some that are so extraordinary in concept and experience, they are worth the trip at least once in lifetime. 

It's about this kind of restaurant that I'm going to talk now. This experience of mine had a name, and that name was "NOIR". NOIR is a restaurant in Ho Chi Minh City, Vietnam. And what sets it apart from other restaurants? As the name implies, it wis a "black" experience, for which I went completely "blind". Look at everything that surrounds you ... full of images, color and shine. Now try to close your eyes and imagine yourself without vision ... Among the five senses, vision plays a very important role. Think how different your world would be if you only felt the world only through the other senses. The aromas take on greater relevance, taste becomes more intense, hearing more sensitive and touch more delicate.



This is what NOIR restaurant is all about, a unique experience that changes our perception of the world, where smell, taste, hearing and touch come together to adapt to a reality of total darkness. In this place you dine in the dark and its owners collaborates with three local visually impaired associations. It is one of the few employment opportunities available to these people. The experience begins at the entrance hall of the restaurant where we can still see, thanks to some dim lights that still helps us see. At this stage the concept is described to us, and we can choose the menu that will be served: oriental, western or vegetarian. You only choosen because the dishes are left in mystery. Then they put a blindfold on us and we are given some games to adapt to the absence of vision. Before proceeding to the dining room we must leave in a locker all the light emitting objectsThe experience begins in the entrance hall of the restaurant where we can still see thanks to an illumination that still helps us. At this stage we describe the concept, and we choose the menu that will be served: oriental, western or vegetarian. Only the type of menu is chosen because the dishes are left in mystery. Then they put a blindfold on us and we are given some games to adapt to the absence of vision. Before proceeding to the dining room, we must leave in a locker all the light emitting objects.. We were assigned a guide / waiter who walks us up a few stairs to a room on the top floor. This path leads us into total obscurity and we are led to our table. They indicate a chair by touch and we are asked to feel the limits of the table and the positioning of our cutlery, napkins and glasses. 

Following are the "dishes" that have divisions to separate the different foods. In the absence of vision, all other senses are enlarged, it seems that we speak too loud and the taste of food changes. There are things that we can not identify at all, others seem to be one thing at a time and another at another. The meal seems very long, but lasted less than an hour. At the end of the meal, the guide takes us back to the entrance room where we are presented with the images of the dishes we have tasted. It is normal for the vision to take a few moments to adjust to the light again. We leave with an indescribable sense of having gained an awareness of the lives of people who work there that could never be obtained otherwise. Bottom line: you have a really good meal, but the bottom line of the experience was not the food in itself ... This experience was a challenge in sensory terms, but it was also an epiphany about realities that usually we do not stop to think about.

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